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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ATAULFO ALVES DE SOUZA - BIOGRAFIA


                     
              ATAULFO ALVES DE SOUZA- 1909/1969

Ataulfo Alves de Souza nasceu em Miraí, zona da Mata, em Minas Gerais, na Fazenda Cachoeira, em 2/5/1909. Teve suas primeiras lições de canto com o pai, "Capitão" Severino, repentista, violeiro e sanfoneiro.

Com a morte do pai, aos 10 anos, passou a morar no centro da cidade de Miraí, com a mãe e 6 irmãos. Sua infância ficou registrada em sua memória, e essa vida de menino pobre mas feliz foi o tema de Meus Tempos de Criança, composto anos mais tarde.

MEUS TEMPOS DE CRIANÇA
Ataulfo Alves

Eu daria tudo que eu tivesse 
Pra voltar aos dias de criança. 
Eu não sei pra quê que a gente cresce,
Se não sai da gente essa lembrança... 
Aos domingos, missa na matriz 
Da cidadezinha onde eu nasci... 
Ai, meu Deus, eu era tão feliz 
No meu pequenino Miraí!
Que saudade da professorinha, 
Que me ensinou o be-a-bá...
Onde andará Mariazinha 
- Meu primeiro amor - onde andará? 
Eu, igual a toda meninada 
Quanta travessura que eu fazia... 
Jogo de botões sobre a calçada... 
Eu era feliz e não sabia!

Executando pequenos trabalhos para ajudar a família, só em 1927 encontrou em Afrâno Moreira de Resende, médico recém-formado de Miraí, o passaporte para a cidade grande. 

Acompanhando o Dr. Afrânio em sua mudança para o Rio de Janeiro, logo se cansou dos serviços que fazia e procurou novos horizontes trabalhando em várias outras atividades. 

Casou-se em 1928, e dos cinco filhos do casal, dois revelaram dotes artísticos: Adeilton e Ataulfo Júnior.

Sua vida musical começou no Bloco Fala Quem Quiser, do Rio Comprido, em 1933, e suas primeiras composições musicais chamaram a atenção do engenheiro de gravações da RCA Victor, Mr. Evans, que imediatamente gravou três de seus sambas: Sexta-Feira, Tempo Perdido e Sonho. Em 1935 gravou Saudades do meu Barracão, e daí por diante seu nome firmou-se em plena ascensão. 

Em 1936, as vozes de Silvio Caldas e Carlos Galhardo colaboraram para o sucesso de Saudade dela, A você, Quanta tristeza.

Já conhecido no meio musical, Ataulfo começou a atrair parceiros como Claudionor Cruz e J. Pereira, mas o seu maior parceiro foi Wilson Batista. 

A dupla Ataulfo-Wilson Batista conquistou os carnavais de 1938 e 1940, com Ó seu Oscar, O Bonde são Januário, Eu não sou Daqui, e outras.

O excelente compositor seguia sua carreira compondo seus sambas, que poucos se atreviam a gravar. Orlando Silva foi responsável pelo sucesso de Errei, erramos, em 1941. Mas Ataulfo resolveu cantar ele próprio suas composições e Leva meu Samba foi sua primeira gravação como cantor. Pegaria verdadeiro gosto pela interpretação em 1942 cantando Saudades da Amélia!, um clássico composto em parceria com Mário Lago, depois de nenhum cantor querer gravá-lo.
                                 SAUDADES DA AMÉLIA
                                       Ataulfo Alves - Mário Lago

Nunca vi fazer tanta exigência,
Nem fazer o que você me faz.
Você não sabe o que é consciência,
Nem vê que eu sou um pobre rapaz.
Você só pensa em luxo e riqueza,
Tudo o que você vê você quer,
Ai, Meu Deus, que saudade da Amélia,
Aquilo sim, é que era mulher...
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer.
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer?
Amélia não tinha a menor vaidade,
Amélia é que era mulher de verdade!
Amélia não tinha a menor vaidade,
Amélia é que era mulher de verdade!

Sua voz era afinada mas modesta, e o recurso do coro com vozes femininas deu origem ao conjunto que Pedro Caetano batizou provisoriamente de "Ataulfo Alves e suas Pastoras" mas que se tornou sua marca registrada. Ao conjunto "Ataulfo e suas Pastoras" deve-se o sucesso de muitas gravações nos anos seguintes. 

Dessa fase temos Leva meu samba, Oh! Seu Oscar, Vai, mas vai mesmo, Sei que é covardia, mas..., Meus tempos de criança, Bonde de São Januário, Vida da minha vida, Mais um samba popular, Não posso viver sem ela entre as mais conhecidas.

Suas composições têm um quê de tristeza, o que torna inconfundível a música de Ataulfo Alves, na análise de Mario Lago, seu grande parceiro.

Em 1954, compôs para um show na boate Casablanca, então o point da Praia Vermelha, um de seus maiores sucessos: Pois é, que mereceu uma tela pintada por Pancetti, em sua homenagem. Agradecido, Ataulfo compôs Lagoa Serena dedicando-a a Pancetti, e este retornou a homenagem oferecendo a tela a Ataulfo. O quadro "Lagoa Serena" está desaparecido, enquanto "Pois é" permanece em poder da família. Gravado só em 1955, Pois é tornou-se uma das obras inesquecíveis do compositor.

Em 1957 compôs o samba que melhor refletiu seu estilo nostálgico e melancólico: Meus tempos de criança, interpretado até hoje por quase todos os grandes cantores nacionais.

Ataulfo participou da caravana que Humberto Teixeira organizou em 1961 para divulgar a música brasileira na Europa. Entre as músicas dos shows, duas inéditas que fizeram sucesso posteriormente: Mulata Assanhada e Na cadência do Samba.

Um acontecimento nessa excursão mexeu com o coração do sensível Ataulfo. Numa apresentação em Estocolmo, antes de começar a cantar, um grupo na platéia entoou Saudades da Amélia, levando o cantor-compositor a chorar de emoção.

Também lhe coube representar o Brasil no 1º Festival Internacional de Arte Negra em Dakar, Senegal, em 1966.
O advento da bossa-nova envolveu Ataulfo em uma parceria com Carlos Imperial, e das muitas músicas produzidas, Você passa eu acho graça foi o maior sucesso. A gravação de Ai, que saudade da Amélia junto com Roberto Carlos é histórica.

Amélia dos Santos Ferreira - a musa inspiradora do clássico Ai, que saudade da Amélia, faleceu aos 91 anos de idade, em 27 julho de 2001, e era na época da composição a empregada da cantora Aracy de Almeida.

Em 1967 Laranja Madura conquistou o público de imediato.
De gestos finos e muito educado, Ataulfo Alves foi apontado pelo colunista social Ibrahim Sued como um dos homens mais elegantes do Brasil. 

Chegou a ter sua própria editora por volta de 1961, e soube empregar o dinheiro que ganhou, adquirindo bens que lhe permitiram viver tranquilamente.

Das curiosidades de sua vida, costumava "reger" seu conjunto com um lenço branco e esse lenço foi passado a seu filho Ataulfo Junior em 1965, quando sentia-se já enfraquecer por conta da úlcera duodenal que o levou em 1969, pouco antes de completar 60 anos.

Compôs mais de 320 músicas, e é apontado como uma das maiores produções da música popular brasileira em número e também em sucessos. Até falecer continuava em evidência, fato raro entre os compositores de sua geração.

Em Miraí, a rua onde morava recebeu seu nome, e a cidade prestou-lhe altas homenagens em 1 de maio de 1962.

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