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segunda-feira, 17 de junho de 2013
ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA - BIOGRAFIA
sexta-feira, 7 de junho de 2013
PIETER BRUEGHEL - O VELHO - BIOGRAFIA
Pieter Brueghel, "O Velho"
Suposto auto retrato
(Breda, 1525/1530— Bruxelas, 9 de setembro de 1569) foi um pintor de Brabante, célebre por seus quadros retratando paisagens e cenas do campo.
Pieter Brueghel, conhecido como Pieter Brueghel, "O Velho" (para distingui-lo de seu filho mais velho), foi o primeiro de uma família de pintores flamengos. Assinou como Brueghel até 1569, ano em que retirou o "h" do sobrenome, como viria a acontecer também com seus filhos.
"O Velho", considerado um dos melhores pintores flamengos do século XVI, é o membro mais importante da família. Provavelmente, nasceu em Breda, nos Países Baixos
Foi admitido como mestre na guilda de São Lucas com 26 anos, em 1551, e como aprendiz de Coecke Van Aelst, artista de Antuérpia, escultor, arquiteto e artífice de tapeçarias e vitrais. Foi nesta altura que Brueghel viajou para a Itália, onde produziu uma série de pinturas, a maior parte das quais representando paisagens. Sua primeira obra assinada e datada foi produzida em Roma, em 1553.
Em 1553, se estabeleceu em Antuérpia e dez anos depois mudou-se para Bruxelas permanentemente. Casou-se com Mayken em 1553, filha de Van Aelst, seu mestre.
Sabe-se muito pouco sobre a personalidade de Brueghel, para além de algumas palavras de Carel van Mander: «Era um homem tranquilo, sábio e discreto. Mas, quando estava acompanhado, era divertido e gostava de assustar as pessoas e os seus aprendizes com histórias de fantasmas e outras diabruras.»
É também conhecido como Brugel, O camponês, alegadamente por ter tido o hábito se vestir como camponês, como forma de se misturar com o resto da população, em casamentos e outras celebrações, com o intuito de se inspirar para as suas criações.
A queda dos anjos rebeldes
Viajou pela Itália para aprender a forma de pintar dos renascentistas, permanecendo, como interno, uma temporada no atelier de um professor siciliano.
Viajou pela Itália para aprender a forma de pintar dos renascentistas, permanecendo, como interno, uma temporada no atelier de um professor siciliano.
Foi um pintor de multidões e de cenas populares, com uma vitalidade tal que transborda do quadro. Além da sua predileção por paisagens, pintou quadros que realçavam o absurdo na vulgaridade, expondo as fraquezas e loucuras humanas, que lhe trouxeram muita fama. A mais óbvia influência sobre sua arte é de Hieronymus Bosch , em particular no início dos estudos de imagens demoníacas, como o "Triunfo da Morte" e "Dulle Griet". Foi na natureza, no entanto, que ele encontrou seu maior inspiração, sendo identificado como um mestre de paisagens. Ele é muitas vezes creditado como sendo o primeiro pintor ocidental a pintar paisagens como elemento central e não como um pano de fundo histórico de uma pintura.
Retratava a vida e costumes dos camponeses, sua terra, uma vívida descrição dos rituais da aldeia, da vida, incluindo agricultura, caça, refeições, festas, danças e jogos. Suas paisagens de inverno de 1565 (por exemplo "Caçadores na Neve") são tomadas como provas corroborativas da gravidade dos invernos durante a Pequena Era Glacial.
Utilizando abundante sátira e força, criou algumas das primeiras imagens de protesto social na história da arte. Exemplos incluem pinturas como "A luta entre Carnaval e Quaresma" (uma sátira dos conflitos da Reforma).
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quinta-feira, 30 de maio de 2013
LASAR SEGALL - BIOGRAFIA
LASAR SEGALL - 1891 - 1957
Biografia
Lasar Segall (Vilna Lituânia 1891 - São Paulo SP 1957). Pintor, gravador, escultor, desenhista. De origem judaica, inicia estudos de arte, em 1905, na Academia de Desenho do mestre Antokolski, em Vilna, na Lituânia. Muda-se para a Alemanha em 1906 e estuda na Escola de Artes Aplicadas e na Academia Imperial de Belas Artes, em Berlim. Viaja para a cidade de Dresden, onde freqüenta a Academia de Belas Artes. Amplia seu contato com a pintura impressionista e realiza, em 1910, a primeira mostra individual na Galeria Gurlitt. No final de 1912, vem para o Brasil e no ano seguinte expõe em São Paulo e Campinas. No mesmo ano retorna à Europa. Inicialmente, realiza uma pintura de derivação impressionista, com influência de Jozef Israël e de Paul Cézanne (1839-1906). A partir de 1914, passa a interessar-se pelo expressionismo, desenvolvendo-se plenamente nessa estética em 1917. Em 1919, em Dresden, funda com Otto Dix (1891-1969), Conrad Felixmüller (1897-1977), Otto Lange (1879-1944) e outros, o Dresdner Sezession Gruppe 1919, grupo que agrega artistas expressionistas da cidade. Em 1921, publica o álbum de litografias Bübüe e, em 1922, o Erinnerung an Wilna - 1917 com águas-fortes. Volta ao Brasil, onde fixa residência em São Paulo, no ano de 1923. Na capital paulista, Lasar Segall é destaque no cenário da arte moderna, considerado um representante das vanguardas européias. No ano seguinte, executa decoração para o Baile Futurista do Automóvel Clube e para o Pavilhão Modernista de Olívia Guedes Penteado (1872-1934). É um dos fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna - Spam, em 1932, da qual se torna diretor até 1935. Dez anos após sua morte, em 1967, a casa onde morava, na Vila Mariana, em São Paulo, é transformada no Museu Lasar Segall.
A GREVE
Comentário
Lasar Segall viaja para a Alemanha em 1906, onde freqüenta a Academia de Belas Artes de Berlim, na qual predominam tendências ligadas aos movimentos impressionista e pós-impressionista. No quadro Sem Pai, 1909 as pinceladas livres lembram o impressionismo, porém a obra tem uma atmosfera sombria, reforçada pelos tons escuros da paleta e destaca-se pela caracterização social e psicológica dos personagens. Em 1910, Segall estuda na Academia de Belas Artes de Dresden. Passa a adotar tons mais claros, embora permaneça a tendência ao monocromatismo, característica de toda a sua produção, como, por exemplo, em Leitura, 1914. Revela admiração pela obra de Paul Cézanne, principalmente pelo aspecto construtivo da pincelada, como podemos observar em Violinista, 1912.
Seu primeiro contato com o Brasil ocorre em 1913, quando expõe em São Paulo e em Campinas, retornando a Dresden no mesmo ano. Para a historiadora Claudia Valladão de Mattos, a partir de 1914, o artista revela interesse pelo expressionismo, busca uma nova linguagem pictórica e uma caracterização psicológica mais aguda para suas figuras. A pintura de Segall, sob o impacto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), reflete a preocupação com as injustiças sociais e o sofrimento humano. Seus quadros são estruturados por meio de planos construídos em diagonais e apresentam uma tendência à geometrização, com o predomínio de formas triangulares. Segall utiliza cores escuras e contrastantes, como no quadro Aldeia Russa, 1912.
Em 1918, viaja para Vilna, sua cidade natal, fato que marca sua obra, por reforçar a identificação com algumas questões judaicas que se tornam importantes para sua experiência artística. Retorna a Dresden no mesmo ano. Substitui as cores mais vivas de seu primeiro momento expressionista por tons mais sóbrios, obtidos por meio de camadas sucessivas de tinta, em quadros como Kaddisch - Reza para os Mortos, 1918 e Eternos Caminhantes, 1919. Seus quadros nascem num ambiente artístico marcado pelo cubismo e pela segunda fase do expressionismo alemão, mais aderente a uma aproximação realista da figura, que inclui artistas como George Grosz (1893-1959) e Otto Dix. Entretanto, em comparação às cores vivas utilizadas por esses artistas, as obras de Segall têm caráter melancólico ou lírico e são trabalhadas em tonalidades sóbrias, com predomínio de ocres, cinza, negros e violetas. A gama cromática alude à tristeza em trabalhos como Pobreza, 1921, no qual a construção em formas angulosas triangulares, utilizada anteriormente, cede lugar a linhas mais arredondadas e a figuras que apresentam uma deformação expressiva, com cabeça e olhos enormes.
Em 1923, Lasar Segall muda-se para o Brasil, onde tem contato com os jovens modernistas. Nos primeiros trabalhos realizados no país, revela um deslumbramento pela luz e pelas cores tropicais. Sensibiliza-se não apenas com a paisagem mas também com o ambiente artístico brasileiro: sua produção mantém diálogo com obras de Tarsila do Amaral (1886-1973) , e de outros artistas locais. Nos quadros realizados logo após a chegada ao Brasil, a paleta de Segall se transforma. Os temas (mães negras, paisagens, favelas) são pintados em espaços abertos, com cores claras e luminosas. Realiza várias obras nas quais acentua o drama dos marginalizados pela sociedade. São desse período os quadros: Menino com Lagartixas, 1924 e Colina Vermelha, 1926.
Reside em Paris entre 1928 e 1932. Nessa época, produz obras com motivos brasileiros e também utiliza temas recorrentes, como o da emigração. O colorido vibrante de suas telas dá lugar a uma luz mais pálida e mais suave. Os quadros Família do Pintor e Maternidade (ambos de 1931) apresentam uma superfície mais espessa, que tem um paralelo com as esculturas que o artista começa a fazer. Segall passa a estruturar as composições por meio da mancha cromática e a linha não é mais tão predominante em suas obras. A experiência com a escultura contagia os tons e a superfície da pintura, as figuras adquirem volumes e aspectos mais escultóricos. As cores tornam-se terrosas, marrons, cinza, ocres, como nos quadros Mãe Negra, 1930 e Casa na Floresta , 1931.
A partir de 1935, pinta paisagens de Campos de Jordão, de cromatismo muito refinado. Sua obra adquire aspecto de matéria densa, com uma cor muito peculiar. Os temas ligados a dramas humanos permanecem em quadros de grandes dimensões: Navio de Emigrantes 1939/1940 e Guerra, 1942, entre outros. Na década de 1950, a arte de Segall revela mais liberdade plástica, aproximando-se da abstração, por exemplo, em Floresta Crepuscular, 1956. Nessa obra a natureza é a inspiração para os suportes verticais, nos quais se estabelece um sutil estudo de luz e cor.
Ao longo da carreira, dedica-se a várias técnicas de gravura. Em seus primeiros trabalhos, explora o uso das sombras, acentuando o claro-escuro. Para Claudia Valladão ocorre certo descompasso entre a produção gráfica de Segall e sua pintura no período entre 1914 e 1916. O artista, nas gravuras, se afasta da estética impressionista, em trabalhos como Cabeças, 1914, o que não ocorre em sua pintura, que passa por uma fase de transição. Em 1918, o artista produz cinco litografias inspiradas no conto Die Sanfte [Uma Doce Criatura], de Dostoievski (1821-1881). Elas representam ponto alto em sua produção, pela extrema concentração e simplificação das figuras, concebidas em formas geométricas, pelo traço econômico e pelo jogo que o artista estabelece entre formas e vazios. Na série Mangue, 1926/1929, realizada no Brasil, aborda o tema da prostituição; predomina um clima de tensão, estabelecido pela presença de elementos como persianas e cortinados ou por ambientes opressivos onde se situam os personagens. A série Emigrantes, 1927/1928 possui uma atmosfera mais amena, surgem espaços abertos com a representação do céu e do mar.
Os desenhos são importantes na produção de Segall e, como na gravura, apresentam temas recorrentes como o universo de desfavorecidos e marginalizados pela sociedade. O artista confere a suas figuras deformações expressivas e situa os personagens em espaços que os oprimem, o que gera um clima de tristeza e abandono.
O humanismo, revelado pela preocupação com a violência, a miséria e as injustiças sociais, e certo caráter lírico estão presentes em toda a sua carreira. Segall aborda temas universais, expressando-os com emoção, por meio da cor em sua pintura ou pelo jogo entre linha e vazio em suas produções gráficas.
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
BADEN POWELL DE AQUINO - BIOGRAFIA
Por Philippe Baden Powell
PARA QUEM NÃO SABE...
Baden
Powell é considerado um dos maiores violonistas de todos os tempos e um dos
compositores mais expressivos da nossa música. Criador de um estilo próprio,
foi o violonista mais influente de sua geração, tornando-se uma referência
entre os violões havidos e a haver. Sua música rompe as barreiras que separam a
música erudita da música popular, trazendo consigo as raízes afro-brasileiras e
o regional brasileiro.
ORIGENS
Baden nasceu no dia 06
de Agosto de 1937 em uma cidadezinha no norte do estado Fluminense chamada
"Varre-e-Sai". Ele nunca soube me dizer porquê a cidade tem esse
nome, mas sempre falou dela com muito amor. Dizia que seu pai o havia ensinado
a ter saudades de "Varre-e-Sai". Meu avô se chamava Lilo de Aquino,
mas tinha o apelido de "Tic", era sapateiro de profissão e chef de
escoteiro. Meu pai ganhou o nome de Baden Powell em homenagem ao fundador do
escotismo: o General britânico Robert Thompsom S. S. Baden Powell.
A música faz parte da história da nossa
família há algumas gerações, meu bisavô, Vicente Thomaz de Aquino, foi um
fazendeiro negro que fundou talvez uma das primeiras e únicas bandas de
escravos que tocavam e cantavam suas raízes. Sempre ouví muitas histórias de
meus ascendentes mas infelizmente não conheci meus avós. A família decidiu se
mudar para o Rio de Janeiro e com apenas três meses Baden tornou-se carioca do
bairro de São Cristóvão. Cresceu ouvindo música; contava as histórias de seu pai,
violinista amador, que fazia reuniões musicais em casa com os amigos
Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Jaime Florence (o "Meira"), entre
outros bambas da música dessa época. Contava também que costumava acompanhar os
saraus batucando no armário do quarto.
Com oito
anos Baden se apaixonou por um violão que sua tia ganhara numa rifa. Ela não
tocava nada e por isso o deixou pendurado na parede da sala. Baden ficava
"namorando" o instrumento, mas era muito tímido pra pedir emprestado.
Um dia não resistiu e pegou escondido o violão, enrolou-o em uma toalha e
guardou debaixo da cama. Ficava descobrindo o som do instrumento e se
encantando cada vez mais por ele, dizendo para si mesmo: "Eu vou tocar
você!". Até que a mãe dele, limpando o quarto, achou o instrumento
escondido e reagiu muito mal, exigindo que Baden o devolvesse a sua tia, coisa
que ele se recusou. Quando "Seu Tic" chegou do trabalho, soube da
história e entendeu que havia algum interesse se manifestando, ele decidiu
iniciar o Baden nas primeiras posições de acordes do instrumento. Em poucas
aulas Baden já havia esgotado o pouco conhecimento violonístico do pai e foi encaminhado
aos cuidados do Meira, grande mestre violonista que foi também professor de
Rafael Rabello e Maurício Carrilho.
TRIBUTO AO PROFESSOR
MEIRA
Baden aprendeu muito
rápido, estudou violão clássico pela Escola de Tárrega e participava ainda
iniciante das rodas de choro organizadas pelo professor: "O Meira colocava
a gente sentado em volta da mesa e eu tinha que tocar tudo de ouvido, sem
direito a erro, senão o pessoal brigava!", relembrava Baden.
A
prática e convivência com os melhores músicos da época lhe valeram boa parte da
sua sabedoria musical. Baden era um prodígio gênial e seu talento se
desenvolveu muito rápido. No ano em que completou nove anos participou do
programa de calouros "Papel Carbono", apresentado por Renato Murce na
Rádio Nacional, e conquistou o primeiro lugar como calouro/solista de violão,
interpretando o choro "Magoado" de Dilermando Reis. Concluiu o curso
de violão em quatro anos, aos treze tinha no repertório uma transcrição própria
do Muoto Perpetuo de Paganini. Um dia seus pais foram chamados por Meira, que
lhes disse não ter mais nada a ensinar ao jovem virtuose. A partir daí, começou
a atuar profissionalmente recebendo seus primeiros cachês em bailes e festas no
suburbio e na boemia Lapa. O primeiro conjunto que formou foi um trio composto
por Milton Banana na bateria e Ed Lincoln ao contrabaixo.
UM VIOLÃO NA MADRUGADA
Terminado o ginásio no
Instituto Cyleno, em São
Januário , Baden começou a trabalhar como músico de orquestra
na Rádio Nacional, e fez excursões pelo Brasil organizadas por Renato Murce
onde os convidados principais eram artistas de cinema da época como Adelaide
Chiozzo, Carlos Mattos, Eliana e Cyl Farney. Durante a década de 1950 integrou
o Trio do pianista Ed Lincoln, atuando na Boite Plaza em Copacabana: ponto de
encontro dos amantes da boa música, entre os quais figurava um certo jovem
Antonio Carlos Jobim, admirador do violonista e também atuante na noite
carioca. Sua fama de exelente músico se espalhou rápido e em pouco tempo ele já
era um dos músicos mais requisitados entre cantoras, como Alaíde Costa e
Elizeth Cardoso, e estúdios de gravação. Nessa mesma época Baden começou a
compor com seus primeiros parceiros: Nilo Queiroz, Aloysio de Oliveira, Geraldo
Vandré e Ruy Guerra. Nessa primeira leva nasceram "Deve ser amor",
"Não é bem assim", "Rosa flor", "Conversa de poeta",
"Vou por aí", "Canção à minha amada", mas seu primeiro
grande sucesso veio em 1956: "Samba Triste" em parceria com Billy
Blanco. No final da década de 50 ele gravou seu primeiro disco,
"Apresentando Baden Powell e seu Violão", lançado pela gravadora
Philips, que hoje é Universal.
UM VIOLÃO AFRO -
BRASILEIRO
No
início da década de 60, Baden tocava na boate Arpège, em Copacabana, e recebeu
a visita do poetinha Vinicius de Moraes, que foi assistí-lo. A parceria Tom
& Vinicius já fazia barulho e Baden ficou muito entusiasmado com o convite
do poeta para que fizessem umas "musiquinhas" juntos. "O
Vinicius chegou me mostrando uma letra que ele disse ter feito pra toccata 147
de Bach, Jesus Alegria dos Homens, e cantarolou: - Entre as prendas com que a
natureza… Aí eu pensei que ele era maluco, hahaha!". Marcaram uns três
"bolos" (encontros aos quais, um dos dois sempre faltava) e depois se
trancaram no apartamento do Vinicius durante quase três meses; violão, máquina
de escrever e o melhor amigo do homem, segundo Vinicius, o cão engarrafado:
Whiskie. O Vinicius, que ainda era diplomata, pediu uma licensa ao Itamarathy e
ligou para os pais do Baden avisando que ele ia ficar em sua casa uns dias.
Imagina, o Baden mal havia entrado na casa dos vinte e tomava guaraná! Durante
esse período nacseram diversas composições, a primeira paerceria chama-se
"Canção de ninar meu bem" e da mesma safra outras viraram clássicos
da Bossa Nova e da MPB, como "Samba em Prelúdio", "Só por
amor", "Bom dia amigo" e "O Astronauta". Entre essas
parcerias se destaca uma suíte cuja a linha temática é a história dos Orixás
(santos na religião do Candomblé), batizada de "Os Afros-Sambas", que
talvez seja a obra mais característica da dupla. Em um depoimento Vinicius
disse: "[…] o disco os 'Afros-Sambas' de Baden e Vinicius' realizou um
novo sincretismo, deu uma dimensão mais universal ao candomblé
afro-brasileiro".
E assim
o movimento "Bossa Nova" ganhou uma nova vertente. O sucesso da dupla
foi muito grande, Baden e Vinicius eram figurinhas fáceis no programa "O
Fino da Bossa" apresentado por Elis Regina, que fez com que muitas dessas
parcerias se tornassem sucessos. Conta a lenda que a letra do "Canto de
Ossanha" foi escrita para Elis minutos antes de um programa ir ao ar, e
ela cantou lendo o manuscrito do poeta como se já soubesse a música. A divina
Elizeth Cardoso, amiga de Vinicius, também foi uma voz que imortalizou várias
canções e sambas de Baden. Também Ciro Monteiro dedicou um disco à parceria chamado
de "Baden e Vinicius".
Paulo
César Pinheiro também foi um parceiro musical da maior relevância na obra de
Baden. Juntos compuseram uma obra influenciada pelo samba e pelo choro, com
letras inspiradas na liguagem popular e erudita. Paulo César Pinheiro é um
letrista cuja poesia traduz fielmente as melodias de Baden. A obra desta
parceria é uma evolução harmônica, melódica e poética do samba. O primeiro
samba composto pela dupla foi "Lapinha", vencedor da I Bienal do
Samba no ano de 1968, defendido por Elis Regina, que também imortalizou
"Cai dentro", "Aviso aos navegantes", "Samba do
perdão" e "Vou deitar e rolar".
UM VIOLÃO NO MUNDO
Ainda durante a década
de 60, Baden faz sua primeira visita à terra onde mais tarde se consagraria: a
França. Na verdade, por motivos de força maior, Baden deixou de ir para os
Estados Unidos, seu pai havia ficado muito doente e ele resolveu ficar no Brasil.
Pouco tempo depois o “seu Tic” faleceu, deixando a lembrança de um Velho amigo,
à quem Baden dedicou uma canção homônima, com letra do Vinicius.
Convencido
por um amigo, não duvido muito que tenha sido o próprio Vinicius, de que a
Europa tinha muito mais a oferecer do que os EUA, o Baden trocou sua passagem
Rio-NY por uma Rio-Paris e embarcou para a cidade luz. Ele permaneceu na França
por vinte anos e depois mais 5 na Alemanha, acho que ele realmente gostou de
lá. O fato é que Baden se apaixonou por Paris e pelo povo francês, que o
acolheu tão calorosamente. Chegando em Paris foi logo encaminhado ao Quartier
Latin, bairro boêmio, onde se concentrava toda a juventude parisiense - reduto
dos artistas e da efervecência cultural. Baden começou a tocar em pequenos
restaurantes e bares e logo chamava atenção pela sua singularidade sonora. Ele
sempre me disse para estar preparado musicalmente para qualquer situação, e me
contava que entre duas músicas interpretava uma de suas releituras dos
clássicos brasileiros como Manhã de Carnaval, captando a atenção de quem estava
assistindo.
Ao final
de três meses, prazo de isenção de visto concedido pela França a todo
visitante, o compositor, ator e cineasta francês Pierre Barouh, que escreveu
uma linda versão do "Samba da Benção" - "Samba Saravah" -,
conseguiu que o Baden fizesse uma apresentação na primeira parte do show do
cantor Jacques Brel. Foi a grande oportunidade de Baden: uma apresentação para
um público entendido e apreciador de música. Bem como ele me aconselhou, estava
mais do que pronto, e no final de seu concerto foi chamado mais 8 vezes de
volta ao palco! Estavam na platéia agentes e empresários, diretores de
gravadoras e jornalistas, todos impressionados e surpresos por uma música
original e cheia de energia, que misturava samba com batuque, música clássica
com improvisação, e lindas melodias dos já sucessos da Bossa Nova. Aquele foi o
início de sua carreira internacional, a partir dali foram uma sucessão de
propostas que resultaram em vários discos, tournées pelo mundo e parcerias
inesquecíveis com diversos artistas com Stéphane Grappelli, Michel Legrand,
Liza Minelli e Claude Nougaro, entre outros.
VIOLÃO ETERNO
Baden Powell trilhou
um caminho de sucesso, respeitado e reverenciado por sua musicalidade e
genialidade como instrumentista. Ganhou reconhecimento mundial, deixando seus
acordes gravados no coração de vários fãs pelo mundo. Gravou mais de 70 discos
e recebeu diversos prêmios pelo conjunto de sua obra, deixando um imenso legado
a todos os músicos e amantes da música. Sua influência é marcante e está
presente nas novas gerações de músicos, contribuindo para a evolução da música
brasileira.
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