Translate

sábado, 22 de fevereiro de 2014

CARLOS GOMES - BIOGRAFIA

                                           

                                                            
Carlos Gomes

Uma trajetória notável

Nascido em Campinas, interior de São Paulo, Antônio Carlos Gomes (1836-1896) teve o mérito de nascer pobre numa cidade pouco importante (imaginem Campinas em 1836) de um país atrasado e de fazer sucesso num dos mais importantes teatros de ópera do mundo, o Teatro alla Scala de Milão. 
Equivaleria, nos dias de hoje, a um cineasta nascido de família pobre no interior de Goiás ir para Los Angeles e em sete anos ganhar um Oscar. Só isto já faria dele um verdadeiro herói nacional. 
Se pensarmos que este sucesso retumbante que aconteceu na estreia da ópera Il Guarany na noite de 19 de março de 1870, aconteceu a um músico de apenas 34 anos de idade, vemos que as injustiças ao primeiro compositor brasileiro a adquirir renome internacional foram terríveis. Começaram ainda no século XIX e se estendem até os dias de hoje.



Primeira grande injustiça: os republicanos

Carlos Gomes foi estudar na Europa com apoio pessoal do Imperador Dom Pedro II. Além de uma ajuda financeira o Imperador, extremamente culto e bem relacionado com o meio cultural europeu, abriu caminho para o jovem músico não só através de meios financeiros mas por meio de cartas de recomendação. 
A estreia brasileira de sua ópera mais conhecida, Il Guarany, no mesmo ano da estreia europeia, foi um grande êxito para o império brasileiro, e sua ópera Lo Schiavo (O escravo) foi dedicada à princesa Isabel em 1887, pouco antes de ela ter assinado a Lei Áurea. 
Quando a república foi proclamada em 1889 a situação de Carlos Gomes ficou bem incômoda frente aos novos governantes. Esta guinada política coincide com o início da doença que iria lhe tirar a vida. 
Os militares republicanos recusaram oferecer a ele a direção do Conservatório de Música do Rio de Janeiro, sendo que sua única opção foi aceitar um cargo em Belém do Pará, cargo este que nem chegou a ocupar formalmente, visto que a doença o matou logo depois de sua chegada ao Pará em 1896. 
A maneira sórdida como os sórdidos implantadores da república o tratou foi a primeira grande injustiça que sofreu, ainda em vida, nosso maior compositor do romantismo musical.


Segunda grande injustiça: os modernistas

No magnífico livro “Carlos Gomes – Um tema em questão: a ótica modernista e a visão de Mário de Andrade” do maestro Lutero Rodrigues (Editora Unesp) podemos tomar contato com a maneira que os artistas paulistas viam a obra de Carlos Gomes. 
Pouco antes de acontecer a “Semana de Arte Moderna” de 1922 Oswald de Andrade publicou um longo texto com as seguintes ofensas ao compositor: “Carlos Gomes é horrível.(…)De êxito em êxito, o nosso homem conseguiu difamar profundamente o seu país, fazendo-o conhecido através dos Peris de maiô cor de cuia e vistoso espanador na cabeça, a berrar forças indômitas em cenários terríveis”. Cito apenas uma pequena parte do que Oswald de Andrade escreveu a respeito. Ele chama a arte de Gomes de “inexpressiva, postiça, nefanda…”, e estas opiniões abalaram de forma decisiva o prestígio do compositor. 
Em 1936, o centenário do nascimento do músico foi comemorado como uma espécie de resgate do “Estado novo”. As punhaladas que Mario e Oswald de Andrade deram no compositor foram minimizadas. Numa época em que as óperas de Carlos Gomes eram montadas com frequência, tanto no Brasil como no exterior, fizeram destes raivosos comentários uma coisa vista como meras excentricidades.

Terceira grande injustiça: o esquecimento
 nos dias de hoje

Se os republicanos decretaram o ostracismo de Carlos Gomes, se os Modernistas o chamaram de vergonha nacional, o meio musical brasileiro dos dias de hoje comete uma injustiça tão grande como as duas já citadas. 
A obra de Carlos Gomes é raramente executada. Exemplo disso é nossa melhor orquestra, a OSESP, que simplesmente ignora o grande compositor. Na recente excursão europeia a orquestra, que brilhou executando a Primeira Sinfonia de Mahler, executou como abertura em diversos concertos um arremedo sem graça em cima do hino nacional composto por uma autora mais ligada à música popular.
 Por que não abrir o concerto com páginas sinfônicas de grande beleza e efeito do compositor campineiro como a “Alvorada” da ópera Lo Schiavo, ou a abertura de Il Guarany? O famoso maestro italiano Giusepe Sinoppoli (1946-2001), por exemplo, costumava abrir alguns concertos na Alemanha com as aberturas das óperas “Fosca” e “Il Guarany”, coisa raramente feita aqui. 


As partes orquestrais das óperas menos conhecidas do compositor (Maria Tudor, Condor) estão se desfazendo, e em breve não será mais possível executá-las. 
Nas décadas de 50,60, 70 e 80 o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o de São Paulo executavam com frequência as óperas do mestre, e artistas internacionais como o tenor Mario del Monaco e o soprano Antonieta Stella mantinham Il Guarany e Lo Schiavo em seus repertórios. Isto tudo virou passado. 
Em São Paulo havia um maestro que defendia com unhas e dentes a obra de nosso conterrâneo: Armando Belardi. A convicção com a qual ele dirigia as obras de Carlos Gomes não sai de minha memória. 
O famoso tenor espanhol Plácido Domingo se interessou pela obra mais conhecida do compositor, Il Guarany, mas mesmo com ele cantando exemplarmente a gravação que ele realizou não decolou pela falta de comprometimento da equipe. 
Se a obra se chama “ópera ballo” por que cargas d’água cortaram o ballet, uma das páginas mais interessantes da obra? Aliás, mesmo com condições técnicas inferiores é bem preferível a gravação feita em 1959 em São Paulo com a impecável e comprometida regência de Armando Belardi e com a participação da eterna Niza de Castro Tank. 
Aliás, vale a pena ressaltar que junto ao Theatro Municipal de São Paulo há um belíssimo monumento homenageando o compositor, mas este mesmo teatro não monta uma obra de Carlos Gomes há décadas. 
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que já montou obras importantes do autor, encontra-se de tal forma sucateado que também não monta nada do compositor há muito tempo.
  


Fatos e versões

Algo bem prejudicial a Carlos Gomes é compara-lo a Giuseppe Verdi. Sem dúvida o compositor italiano possuía um tipo de genialidade que o brasileiro não tinha. Mas se o Brasil fosse um país que tomasse mais a sério a sua produção cultural poderíamos perceber, e defender, que Carlos Gomes não fica nada a dever a compositores da mesma época como Amilcare Ponchielli (1834 –1886), autor da famosa ópera “La Gioconda”. 
Muitas pessoas criticam que o índio Peri canta em italiano, mas estas mesmas pessoas esquecem que isso era uma convenção da época. Poderíamos criticar então que os espanhóis em “Le nozze di Figaro” de Mozart cantaram em italiano para um público austríaco, mas isto também seria um completo absurdo. 
A obra de Carlos Gomes tem um valor indiscutível, e conhece-la é de uma enorme importância para nós brasileiros. 
A bibliografia sobre o compositor é dificilmente encontrada e nem sempre de alto nível. Lamento, por exemplo, o desaparecimento total do livro “Uma força indômita” do musicólogo Marcus Góes, editado pela Secretaria de Cultura do Pará, o mais bem documentado estudo sobre o compositor. Ele aparece à venda no Mercado Livre por R$ 250,00, como uma raridade!!! 
Não posso deixar de registrar aqui os grandes defensores da obra do compositor. Perdão pelos esquecidos. Inicialmente o soprano Niza de Castro Tank, grande artista, que fez um trabalho de resgate da obra de seu quase conterrâneo (ela nasceu em Limeira) e que sempre cantou a música de Carlos Gomes com uma fé inquebrantável. Em outubro de 1992 tive um dos maiores privilégios de minha vida quando executei com ela em Brasília o Oratório “Colombo”. Já falei da arte do maestro Armando Belardi, mas destaco também a fé e energia do maestro Eleazar de Carvalho. Quem o viu regendo Lo Schiavo sabe o que quero dizer com “fé inquebrantável”. Dois barítonos não me saem da mente: Fernando Teixeira e Rio Novello. Eles também me fizeram acreditar na genialidade do compositor. 
Com tanto desprezo e esquecimento creio que Carlos Gomes será, em pouco tempo, lembrado apenas como nome de rua e de praça, e será tido para muitos como um político…
Artigo do maestro Osvaldo Colarusso

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

GIOVANNI BATTISTA CASTAGNETO - BIOGRAFIA

                              

Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Itália 1851 - Rio de Janeiro RJ 1900)

Pintor, desenhista, professor.

Exerce a profissão de marinheiro em Gênova. Acompanhado de seu pai, vem para o Rio de Janeiro em 1874. Em 1878, matricula-se nos cursos de desenho figurado, desenho geométrico e matemática na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, onde estuda até 1884, tendo como professores Zeferino da Costa (1840 - 1915) e Victor Meirelles (1832 - 1903), entre outros. De 1882 a 1884 é orientado porGeorg Grimm (1846 - 1887) e, quando este rompe com a Academia, acompanha-o na instalação do seu ateliê ao ar livre na Praia de Boa Viagem, em Niterói, e integra o Grupo Grimm. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Expõe individualmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, na Casa Vieitas, em 1886. Viaja para a França em 1890, onde conhece o pintor Frédéric Montenard (1849 - 1926), que o aconselha a estudar com o marinhista François Nardi (1861 - 1936). Volta ao Brasil em 1893 e, no ano seguinte, inaugura exposição individual na Escola Nacional de Belas Artes - Enba com obras produzidas em Toulon, França. Considerado um importante pintor de marinhas e paisagens litorâneas, o artista continua aperfeiçoando-se nesta temática até a maturidade de sua produção, alcançada com as experiências no litoral da França. As marinhas produzidas nos últimos dez anos de vida revelam o completo domínio técnico sugerido pelas composições equilibradas, pela depuração cromática e pelo tratamento pessoal conferido à superfície pictórica. 


Comentário Crítico

Giovanni Battista Castagneto nasce em Gênova e vai para o Rio de Janeiro em 1874. Ingressa na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, em 1878, onde estuda, entre outras disciplinas, paisagem com Georg Grimm (1846 - 1887), entre 1882 e 1884, ano em que Grimm deixa a Aiba. Desde o início volta-se para a representação da natureza, em especial a pintura de marinhas. Seus primeiros trabalhos já revelam as características essenciais de sua produção: as pinceladas livres, o forte gestualismo e tendência ao monocromatismo, como vemos, por exemplo, em Trapiche na Baía do Rio de Janeiro (1883).
Em 1884, acompanha Grimm quando ele rompe com a Aiba e cria um ateliê ao ar livre, na Praia de Boa Viagem em Niterói. A admiração pela obra de Georg Grimm está na percepção da paisagem, escolha de motivos, sintetização dos elementos e restrição da paleta, como no quadro Porto do Rio de Janeiro (1884). Castagneto tem uma atividade intensa na pintura, caracterizada pela elaboração de diversas séries de obras, que permitem avaliar o estudo que o artista faz da natureza e das mutações da atmosfera marinha. Desloca-se com freqüência para Niterói, onde os alunos de Grimm se reúnem, fixando aspectos do litoral. Representa muitas vezes a praia de Santa Luzia: os efeitos da luz no mar e as reformas da igreja. Realiza uma série de marinhas de Angra dos Reis, de pincelada larga e agressiva, pintadas do natural, em que predominam os verdes e o cinzas.

O artista revela uma sensibiblidade romântica, por meio da qual interpreta a natureza. Assim, suas representações do mar ou dos botes a seco, são carregadas de sentimento. O tratamento pictórico é impulsivo e quase violento, percebe-se a pincelada cortante e o empastamento farto. Representa embarcações de pesca, simples canoas, que adquirem dignidade e imponência, como em Canoa a Seco na Praia em Angra dos Reis (1886).

Em 1887, pinta o quadro Uma Salva de Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro, concebido nos modelos da Academia, para concorrer ao prêmio de viagem. A recusa do quadro pela Aiba e as críticas publicadas nos jornais, causaram profunda amargura no artista, cuja produção, nos anos seguintes, torna-se irregular. Viaja para a França em 1890, com o auxílio de amigos. Lá tem contato com Frédéric Montenard (1849 - 1926), pintor francês viajante, que possui especial afeição por temas marinhos. Por intermédio dele conhece o francês François Nardi (1861 - 1936), também pintor de marinhas, com quem reside por um tempo em Toulon. Concentra-se nas cenas de pesca e no estudo da atmosfera marinha. Seus temas são os botes a vela, muito coloridos, que ocupam enseadas próximas à cidade, como em Barco de Pesca Ancorado em Toulon (1892) ou os efeitos de luz na água, como em Vista de Mourillon (1892).
 

Durante a estada em Toulon a paleta de Castagneto se diversifica, trabalha as cores com mais liberdade e o desenho se estrutura. Em relação à produção anterior, o período francês representa certo enfraquecimento da potência romântica, pela adaptação aos cânones e busca de maior controle dos valores pictóricos.
De volta ao Brasil, seu fazer artístico consolida-se. Observa-se em suas obras o retorno à gestualidade no manejo dos pincéis, as cores tornam-se mais sutis e muito suaves, em relação às paisagens pintadas em Toulon. O desenho rigoroso, que marca os contornos das formas, se desestrutura, como pode ser visto em Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (ca.1898). Predominam em seus quadros as cores claras, tons límpidos e transparentes, o uso de azuis-cinza, nuances de amarelo e verde-água. Destacam-se a fatura original dos trabalhos e o tratamento personalíssimo da superfície pictórica: os empastamentos muitas vezes são trabalhados com a espátula, em certos pontos, até com o polegar. 

A paisagem da ilha de Paquetá torna-se, desde 1896, o ambiente preferencial de suas pinturas.
Castagneto é descrito por seus contemporâneos como um homem à margem da sociedade, boêmio, inconformado com as convenções. O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), descreve o pintor como manso e  irascível, afirmando que "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".1  Sua pintura apresenta suavidade e violência, alia a execução rápida e angustiada a um grande lirismo.
Notas
1 DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 198.

Críticas

"Despreocupado com o desenho, como os impressionistas franceses, o pintor preocupa-se em captar a luz através da pintura, fixar o fugidio, com uma preferência temática: a luz sobre a água, à beira-mar, quase sempre. Nesta obra, as formas se desfazem através da bruma-luz à distância, e, em primeiro plano, os diversos elementos são compostos como manchas de cor, que ele aplica sobre a superfície da tela. Em geral seus quadros são de pequenas dimensões e dão a impressão, vistos de perto, de serem manchados com a cor, ora aplicada sobre a tela obedecendo a um certo ritmo, ora apresentando uma grafia desordenada e mesmo nervosa, denunciando uma execução rápida. (...) Talvez por influência do fascínio pelo mar, seu ateliê era um barco que se deslocava na Baía de Guanabara, que ele fixou em vários de seus aspectos".
Equipe da Pinacoteca do Estado
PINACOTECA do Estado de São Paulo. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

"Foi em tarefa na qual muitos vagaram no marasmo da mesmice que Castagneto avultou e revelou o máximo do seu poder criador, o pleno domínio da técnica. Mas, para tanto alcançar, serviu-se de larga e funda experiência de vida, conhecedor que era do mar, em seu conjunto e suas nuanças. Entretanto, Castagneto não deixa de construir uma unidade conflituosa entre o mar e o homem e daí a variedade de cenários com os quais travamos conhecimento, à medida que repontam as ocorrências de seu cotidiano. E é nesse sentido que vamos encontrar toda uma extraordinária riqueza espiritual, sempre presente nas diversas obras que compõem o conjunto de sua produção".
Alcídio Mafra de Souza

LEVY, Carlos Roberto Maciel. Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.
"Ao longo de 1896 consolidam-se os elementos que projetariam de modo progressivo e radical a vida e a obra de Giovanni Battista Castagneto em direção a um processo estrutural de simplificação. No plano da existência, até então, sua vida fora uma persistente sucessão de lutas caracterizadas pelo inconformismo e pelo temperamento libertário (...). Foi ele um homem à margem da sociedade, insatisfeito com os protocolos que ela exigia e revoltado contra as convenções que impunha. Mas, antes que pudesse, em seu universo intelectual ingênuo e inculto, estabelecer os paradigmas contra os quais desejaria se opor e combater, viu-se adulado, querido e 'compreendido' pelas camadas dominantes dessa sociedade, que sobre ele projetaram, discretamente, os seus próprios anseios de independência. (...) Findara o século XIX e abria-se, com o século XX, uma era de progresso, revoluções e transformações radicais no comportamento, nas idéias e nas possibilidades da humanidade. Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)".
Carlos Roberto Maciel Levy
LEVY, Carlos Roberto Maciel. Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.

"Castagneto (João Batista) é original. Filho de um lobo-do-mar, de um velho nauta embalado pelas vagas do Mediterrâneo e do Iônio, João Batista Castagneto nasceu artista e nasceu marinheiro. Herdou de seu pai o amor pela misteriosa inconstância do mar, recebeu da sua querida Itália o bafo quente da impressionalidade artística. Como o mar o seu temperamento é rebelde. Ama e odeia.  É manso e é irascível. Um dia pensou que o estudo acadêmico, em vez de fazê-lo progredir, vinha impedir-lhe os passos; e rasgou, de um momento para outro, os motivos que o prendiam à Academia. Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todos os enlevos, toda a poesia das vagas. A voz tormentosa das águas, o doudo soluçar das ondas, as ciclópicas lutas do oceano vibram dentro dele estranhas cordas sonoras de um sentimentalismo que a mais ninguém a natureza deu. E, como o mar, a sua pintura é forte e é doce, é rápida e é vagarosa, tem asperezas e tem carícias, parece transparente e parece compacta, brilha e se entenebrece. (...)
Quando lhe falta tempo para mudar pincéis,
maneja um só, mergulhando-o em diversas tintas, ou pinta com os dedos, com as unhas, com a espátula, com o primeiro objeto que tiver à mão: um seixo resistente, um pedaço de pau, um pedaço de corda, um palito, o cano do cachimbo, a ponta do cigarro.
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Gonzaga Duque
[Texto originalmente publicado em: DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C., 1888.]
DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 198-200.

"A fusão entre arte e vida, todavia, ele a encontrou na pintura de marinhas. Esse gênero desfrutava de certa fortuna no Brasil: D. Pedro II amava as marinhas e os navios de guerra. Antes de Castagneto, contudo, a história da pintura de marinhas no Brasil já contava com o minucioso modelismo naval de Eduardo De Martino, presente nas coleções imperiais, e com as marinhas 'elétricas' de Émile Rouède, assim denominadas porque pintadas de pronto e não raro de memória. Estas certamente influenciaram a técnica do jovem Castagneto. Daí ele extraiu o amor pela técnica rápida e sintética e pelo suporte improvisado - cartão, fundo de caixas de charuto, pratos, palhetas e até mesmo, num caso, uma pele de bacalhau seco. Também a lembrança de De Martino está presente na única tentativa ambiciosa de uma grande marinha histórica produzida pelo pintor, Salva na Baía de Guanabara em Homenagem a Dom Pedro II, hoje no Museu de Arte de São Paulo, Masp, pintada para obter uma viagem-prêmio da Academia, em 1887.
Foi a maior decepção do artista, nada talhado para esse tipo de celebração. A pintura de Castagneto necessitava de outros temas: 'Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra'.
Para Castagneto, o pintor do mar, o mar era um estado de alma e a pintura, uma forma de vida. Vivia na praia de Santa Luzia, numa casa que parecia um barco. Qualquer objeto lhe servia para fixar a lembrança de um trecho de praia ou para copiar um tema. Apoderava-se, então, do tema com o traço febril da mão e com grande economia de meios, até transfigurá-lo numa imagem simplificada e rápida, a fim de não perder a força da sensação.
Em certos pontos, percebem-se a violência do gesto, o uso de instrumentos improvisados e até mesmo do polegar, à maneira dos escultores. Os botes a seco de Castagneto ultrapassam os limites de gênero, atingido, não raro, o domínio da expressão lírica, como nos cascos-hieróglifos de De Fiori, Volpi, ou nas areias deslumbrantes de Pancetti.
Por fim, conseguiu viajar para o sul da França, onde foi estudar com um marinhista então famoso, François Nardi. Retornou ébrio de luz. Capturou-a em quadros como O Forte de Gragoatá, no MNBA, mas, confuso e doente, a morte precoce veio içá-lo para fora da ressaca".
Luciano Migliaccio
MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 129-130.

Acervos

Acervo Instituto Itaú Cultural (São Paulo SP)
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo SP)
Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro RJ)
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro RJ)

Exposições Individuais

1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante
1890 - Juiz de Fora MG - Individual, na redação do jornal O Farol
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no salão do jornal O Paiz
1894 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1895 - São Paulo SP - Individual, no Salão de Concertos da Paulicéia
1895 - São Paulo SP - Individual, no Banco União
1896 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes
1897 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes

Exposições Coletivas

1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro
1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja de Laurent de Wilde
1885 - Rio de Janeiro RJ - Castagneto e França Júnior, na Casa Vieitas (Rio de Janeiro, RJ)
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1895 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1898 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Retrospectiva, no Centro Artístico

Exposições Póstumas

1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara
1963 - Assunção (Paraguai) - La Pintura en el Brasil
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, na Pinacoteca do Estado
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1978 - São Paulo SP ? Individual, na Sociarte
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto 1851-1900: o pintor do mar, na Acervo Galeria de Arte
1982 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Fluminenses, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1982 - São Paulo, SP - Pintores Italianos no Brasil, no MAM/SP
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis,, no CCBB
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX e XX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Santos SP - Seis Grandes Pintores, na Pinacoteca Benedito Calixto
1994 - Rio de Janeiro RJ - Iconografia da Paisagem
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1995 - Campinas SP - Da Marinha à Natureza Morta
1997 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto: 1851-1900, na Pinakotheke
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - São Paulo SP - 51º Salão Paulista de Belas Artes, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - homenageado
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
Fonte: Itaú Cultural

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

CALDERON DE LA BARCA - BIOGRAFIA

                             
                                              CALDERON DE LA BARCA

(Madrid, 1600-id., 1681) dramaturgo espanhol.Educado num colégio jesuíta em Madrid, estudou nas universidades de Alcalá e Salamanca. Em 1620 ele deixou os estudos religiosos e três anos mais tarde, tornou-se conhecido como dramaturgo com a sua primeira comédia, amor, honra e poder. Como todo jovem, ele instruiu o seu tempo, ele viajou na Itália e Flandres, e desde 1625, o tribunal forneceu um extenso repertório dramático entre afirmando suas melhores obras. Depois de angariar prestígio sólida no Palácio Real, em 1635, ele escreveu O maior encanto, amor, para a inauguração do Palace Theatre del Buen Retiro.

Nomeado Cavaleiro da Ordem de Santiago pelo rei, foi distinguido como um soldado no cerco de Hondarribia (1638) e Guerra da Catalunha (1640).Ordenado em 1561, logo depois que ele foi nomeado capelão de Novos Reis de Toledo. Até então era o dramaturgo mais bem sucedido do tribunal. Em 1663, o rei nomeou-o capelão de honra, então ele mudou-se permanentemente para Madrid.
De acordo com a contagem que ele fez o ano de sua morte, sua produção tem oitenta cento e dez comédias e mistério desempenha, de louvor, lanches e outras obras menores. Como todos os seus contemporâneos, Calderón não podia, mas a partir das diretrizes estabelecidas pela dramáticas Lope de Vega. Mas o seu trabalho, e totalmente barroco, talvez maior alcance e perfeição técnica formal do que Lope. Mais sóbrio Calderón põe em jogo menos caracteres e gira em torno do protagonista, para que o trabalho tem um centro claro da gravidade, de um eixo em torno do qual todas as crianças, reforçando a intensidade dramático.
A. Valbuena notou que seu estilo pode ser distinguido em dois registros. O primeiro é para reorganizar e condensar o que Lope aparece difuso e caótico de moda e styling observa seu realismo maneiras. Assim canções originais Lope reformulado várias de suas obras-primas.

Eles apresentaram uma rica galeria de personagens representativos do seu tempo e do seu estatuto social, que têm em comum um século tema: honrar a herança do soul enfrentou justiça dos homens, se o prefeito Zalamea ou paixões amorosas que cegam a alma, a questão abordada em maior monstro, o ciúmeou o médico de sua honra.


Mas não é isso, é claro, a principal razão para a sua obra. Em seu segundo registro, o dramaturgo inventa além do repertório de cavalaria, a forma poético-simbólico desconhecido antes dele e definir um teatro essencialmente lírico, cujos personagens são elevados ao simbólico e espiritual. Calderón é particularmente notável como o criador dessas personagens barrocas intimamente desequilibrados por uma paixão trágica, aparecendo em O prodigioso mágico ou Devoção da Cruz. Seu caráter universal é rasgado Sigismund da Vida é um Sonho, considerado o ápice Calderonian teatro.
Este trabalho, paradigma de gênero das comédias filosóficas, coleta e dramatiza as questões mais importantes de sua época: o poder da vontade contra o destino, o ceticismo aparências sensíveis, a precariedade da existência, visto como um sonho simples e finalmente, a idéia reconfortante de que mesmo em sonhos, você ainda pode fazer o bem.
Com ele e adquiriu a mesma relevância especial cenário-o que ele chamou de "modos de olhar" - e música. A carpintaria teatral tornou-se um elemento-chave na composição de suas obras eo conceito de cena foi reavaliado de uma maneira geral, em linha com o teatro barroco. Quanto à sua língua, pode ser considerado o ponto culminante da culteranismo teatral. Sua riqueza expressiva e metáforas complexas vêm de uma certa conceitos intelectuais, de acordo com o próprio temperamento ninhada de seus personagens de ficção.

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***

ARTUR AZEVEDO - BIOGRAFIA

                                                    
                                                   ARTUR AZEVEDO
Contista, teatrólogo, poeta e jornalista, Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 7 de julho de 1855, filho de David Gonçalves de Azevedo, vice-cônsul de Portugal em São Luís, e Emília Amália Pinto de Magalhães.

Desde criança, demonstrou aptidão para o teatro, brincando com adaptações de textos e escrevendo peças que ele mesmo representava. 

Escreveu sua primeira peça, Amor por Anexins, em 1872, obtendo grande sucesso de público. Lançou também diversas comédias que foram encenadas nos teatros de São Luís. 

Trabalhou no comércio e na administração provincial, de onde foi demitido por ter publicado sátiras contra autoridades do governo. Após sua demissão, submeteu-se a um concurso para amanuense da Fazenda, conseguindo a classificação e transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde obteve um emprego no Ministério da Agricultura, em 1873.

Exerceu também, no Rio, o cargo de professor de português no Colégio Pinheiro. Porém foi no jornalismo, que fez sua carreira de contista e teatrólogo.

Trabalhou em diversos jornais cariocas, entre os quais, O PaísCorreio da Manhã,Diário de NotíciasO SéculoA Notícia, onde escreveu crítica teatral (folhetim O Teatro), além de criar publicações literárias, como as revistas O DomingoRevista dos TeatrosA GazetinhaVida Moderna e O Álbum. Foi colaborador d’ A Estação, ao lado de Machado de Assis, dos jornais O Mequetrefe e Novidades.

Escreveu milhares de artigos, principalmente sobre teatro, utilizando vários pseudônimos, entre os quais, Elói o Herói, Gavroche, Petrônio, Cosimo, Juvenal, Dorante, Frivolino, Batista o Trocista.

Era um abolicionista ferrenho, defendendo a abolição da escravatura em artigos de jornal e peças de teatro, como O Liberato e A família Salazar. Esta  última, em parceria com Urbano Duarte, foi proibida pela censura do Império, sendo posteriormente publicada com o título de O escravocrata

Dirigiu a Revista do Teatro, com Lopes Cardoso, e foi um dos grandes responsáveis pela criação do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cuja inauguração, em 14 de julho de 1909, não conseguiu presenciar, tendo falecido no ano anterior.
Contemporâneo de Olavo Bilac e Coelho Neto, foi, ao lado do irmão Aluísio de Azevedo, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criando a cadeira nº 29, cujo patrono é Martins Pena.

No início das suas atividades teatrais, traduziu e adaptou comédias francesas. Atento observador dos hábitos da então capital da República, tanto no conto quanto no teatro, escreveu sobre o cotidiano carioca, retratando relações conjugais, familiares, cerimônias festivas e fúnebres, acontecimentos das ruas e das casas, narrando e comentando de forma maliciosa e irônica a vida do Rio de Janeiro na época. Sua obra retrata os costumes da sociedade brasileira no final do Império e início da República.

É autor de comédias, operetas e burletas (farsa jocosa, geralmente musical), que dominaram o cenário teatral brasileiro no final do século XIX. São cerca de cem peças de vários gêneros, encenadas em palcos brasileiros e portugueses. Ainda hoje, peças como A jóiaA capital federalO mambembe continuam sendo apresentadas em diversos palcos. 

Arthur Azevedo também se dedicou à poesia, sendo um dos representantes do parnasianismo, ao conto e ao teatro de revista, sendo considerado um dos maiores teatrólogos nesse gênero. 

Da sua obra, podem ser destacadas, por gênero:


TEATRO: 

Amor por anexins (1872); A filha de Maria Angu (1876); Uma véspera de Reis (1876);Jóia (1879); O Mandarim (em colaboração com Moreira Sampaio, reunião de O Liberato e A famíia Salazar, 1884); Cocota (1885, em parceira com Moreira Sampaio);O Bilontra (escrita com Moreira Sampaio, 1886); Mercúrio (1886); O Carioca (em colaboração com Moreira Sampaio, 1887); O Barão de Pitaçu (opereta, 1887); O Homem (em parceria com Moreira Sampaio, 1887); A almanjarra (1888); Fritzmac eDona Sebastiana (ambas em parceria com Aluísio de Azevedo, 1888 e 1889, respectivamente); A República (em parceira com o Aluísio de Azevedo, 1890); Viagem ao Parnaso (1890); O Tribofe (1892); O Major (1894); A Fantasia (1895); Capital Federal (1897); O Jagunço (1898); Gavroche (1898); Comeu! (1901); O retrato a óleo(1902); O mambembe (1904); Guanabara (com Gastão Bousquet, 1905); O dote (1907); O ano que passa (1907); O oráculo (1956) e Teatro (1983), ambas póstumas.

CONTOS E POESIA:

Carapuças (poesia, 1871); Sonetos (1876); O Rio de Janeiro (com Lino d'Assumpção, 1877); Um dia de finados (sátira, 1877); Tal qual como lá (com França Júnior, 1879);Contos possíveis (1889); Contos fora da moda (1894); Contos efêmeros (1897);Contos em verso (1898); Rimas (poesia, 1909); Contos cariocas (1928); Vida Alheia(1929); Histórias brejeiras (1962); Contos (1973).
Arthur Azevedo morreu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 22 de outubro de 1908

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

TIBOR DÉRY - BIOGRAFIA

                                      TIBOR DÉRY

Tibor Déry foi um escritor, romancista e roteirista de cinema e TV húngaro. 
Foi conhecido também por seu apoio ao comunismo, que lhe rendeu várias prisões e exílio ao longo de sua vida. 
Após a instalação do regime soviético na Hungria, Déry transforou-se em um crítico do stalinismo, principalmente de seus efeitos sobre as políticas culturais. 
Sua obra-prima foi Egy kutya története (Niki, a história de um cão), uma fábula em que ele critica a opressão e repressão arbitrária na vida dos cidadãos promovida pelo stalinismo. 
Déry escreveu entre os anos 1960 e 1970 diversas novelas e romances, além de roteiros de filmes e séries para a tevê húngara, chegou a trabalhar como ator, inclusive. 
Ele morreu em 1977.

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***

CHARLES CHAPLIN - BIOGRAFIA



                                CHARLES CHAPLIN

Chaplin nasceu em Londres no ano de 1889 e iniciou sua carreira como mímico, fazendo excursões para apresentar sua arte. Em 1913, durante uma de suas viagens pelo mundo, este grande ator conheceu o cineasta Mack Sennett, em Nova York (Estados Unidos), que o contratou para estrelar seus filmes.  

Vida e obras 
Seu personagem mais famoso foi o vagabundo Carlitos, oprimido e engraçado, este personagem denunciava as injustiças sociais. De forma inteligente e engraçada, este grande artista sabia como fazer rir e também chorar. 
Em 1918, no auge de seu sucesso, ele abriu sua própria empresa cinematográfica, e, a partir daí, fazia seus próprios roteiros e dirigia seus filmes. Crítico ferrenho da sociedade, ele não se cansava de denunciar os grandes problemas sociais, tais como a miséria e o desemprego. Produziu grandes obras como: O Circo, Rua de Paz e Luzes da Cidade.  Pelo filme O Circo, Chaplin ganhou em 1929 seu primeiro Oscar Honorário.
Adepto ao cinema mudo, o também cineasta, era contra o surgimento do cinema sonoro, mas como grande artista que era, logo se adaptou e voltou a produzir verdadeiras obras primas: O Grande Ditador (crítica ao fascismo), Tempos Modernos e Luzes da Ribalta.
Na década de 1930 seus filmes foram proibidos na Alemanha nazista, pois foram considerados subversivos e contrários a moral e aos bons costumes. Porém, na verdade, representavam uma crítica ao sistema capitalista, à repressão, à ditadura e ao sistema autoritário que vigorava na Alemanha no período. Mas o sucesso dos filmes foi grande em outros países, sendo traduzido para diversos idiomas (francês, alemão, espanhol, português). 

Em 1965, publicou sua autobiografia , Minha Vida. 

Em 1972, Charles Chaplin foi premiado com o Oscar Honorário de melhor trilha sonora pelo filme Luzes da Ribalta.

Em 1977, o mundo perdeu um dos grandes representantes da história do cinema.

Filmografia de Chaplin (longas-metragens principais)

O idílio desfeito -1914
Os clássicos vadios - 1921
O garoto - 1921
Casamento ou luxo? - 1923
Em busca do ouro - 1925
circo - 1928
Luzes da cidade - 1931
Tempos modernos - 1936
O grande ditador -1941
Monsieur Verdoux - 1947
Luzes da ribalta - 1952
Um rei em Nova York - 1957
A condessa de Hong Kong -1967

Frases de Chaplin
- "Mais do que máquinas, necessistamos de humanidade"
- "A persistência é o caminho do sucesso."
- "Acredito que o pecado é realmente um mistério tão grande quanto a virtude."
- "Um dia sem sorrir é um dia desperdiçado."

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***

sábado, 28 de dezembro de 2013

ARY BARROSO - BIOGRAFIA

                                          
                                                         ARY BARROSO

Ary Evangelista Barroso nasceu em Ubá, Minas Gerais, dia 07 de novembro de 1903. Seu pai, o Dr. João Evangelista Barroso, foi deputado estadual e promotor público em Ubá. Após a morte de sua mãe, Angelina de Resende Barroso e de seu pai, ambas ocorridas em 1911, Ary passou a ser criado pela avó, Gabriela Augusta de Rezende, e por uma tia, Rita Margarida de Rezende. Tia Ritinha era professora de piano e durante muito tempo ensinou-o a Ary. Essas aulas acabaram por ajudar no ganha-pão da família. Aos doze anos, Ary começou a trabalhar como pianista auxiliar no Cine Ideal, apesar do empenho da avó e da tia em fazê-lo padre.

Ary estudou, inicialmente, na escola pública Guido Solero. Depois de passar por várias escolas da zona da Mata, acabou concluindo o curso no Ginásio de Cataguases. Aos 15 anos, Ary compôs o cateretê "De longe" e a marcha "Ubaenses Gloriosos". Aos 17 anos, em 1920, Ary recebeu de seu tio Sabino Barroso, ex-ministro da Fazenda, uma herança de 40 contos de réis e resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro. Lá, em 1921 , Ary matriculou-se na Faculdade de Direito e acabou gastando sua herança nos melhores restaurantes, com as melhores bebidas e trajando as roupas mais elegantes. Em 1922, reprovado na faculdade e já sem dinheiro, Ary teve de trabalhar, fazendo fundo musical para filmes mudos bo cinema Íris, no Largo da Carioca.Como era bom pianista, em 1923 Ary passou a tocar com a orquestra do maestro Sebastião Cirino, na sala de espera do Teatro Carlos Gomes. Em 1926 Ary voltou ao curso de Direito, porém sem deixar a atividade de pianista de lado. Como estava desempregado, Ary oferecia-se para tocar em bailes por um preço irrisório até que, em 1928, foi contratado pela orquestra do maestro Spina, de São Paulo, para uma temporada em Santos e Poços de Caldas. Foi nessa época que Ary resolveu dedicar-se à composição.

De 1928 são suas composições "Amizade", "Não vou lá", "Segura a fazenda", "O tal bichinho" e "Tu queres muito" e, ainda, "Amor de mulato", "Cachorro quente" e "Oh! Nina", em parceria com Lamartine Babo; "Mazinha", com Ari Kerner; "Meu pampa lindo", com Zeca Ivo; e "Não posso mais", com I. Kolman. ; Durante os oito meses de viagem, compôs várias músicas.

Em 1929 já de volta ao Rio de Janeiro, Ary deixou suas músicas na casa editora Carlos Wehrs, de onde duas - "Vamos deixar de intimidade" e "Vou à Penha" - foram levadas por Olegário Mariano e Luís Peixoto para serem incluídas na revista 'Laranja da China', que era apresentada no Teatro Recreio. "Vamos deixar de intimidade" acabou sendo gravada por seu amigo e colega de faculdade Mário Reis, transformando-se no primeiro sucesso de Ary Barroso. Em 1929 Ary concluiu seu curso de Direito e compôs, em parceria com Cardoso de Menezes e Bitencourt, "O amor vem quando a gente não espera" e em parceria com Olegário Mariano, "Tu qué tomá meu nome".

Ainda nesse ano Ary compôs os sambas "É banal", "Nini" e "Vá cumprir o teu destino", a valsa "Labaredas de amor" e a marcha "Dá nela", que, por incentivo de Eduardo Souto, foi inscrita no concurso de músicas carnavalescas da Casa Edison para o carnaval de 1930. A música obteve o primeiro lugar. Com o prêmio de 5 contos de réis, Ary pagou algumas dívidas. Com o que sobrou, pode se casar com Ivone Belfort de Arantes. Ainda em 1930 Ary compôs as canções "Como se deve amá", "Quanto num chorei" e "Teus óio", a marcha "Eu sou do amor", o samba-canção "Fugiu, fugiu!" e os sambas "Oba!" e "Samba da gelatina" e também a marcha "Dona Alice" e os sambas "Juramento", "O nego no samba" e "Samba de São Benedito" em parceria com Marques Porto e Luís Peixoto; o samba "No morro (eh! eh!)" e o foxtrote "Sapateado", em parceria com Luís Eglésias; o samba "Outro amor", em parceria com Claudionor Machado; e o samba "Você não era assim", em parceria com Aricles França. Em 1931 Ary produziu várias composições para o teatro musicado, destacando-se "Faceira", lançada por Sílvio Caldas na revista 'Brasil do Amor', que estreou em maio, no Teatro Recreio.

Em junho, era encenada, no mesmo teatro, a revista "É do balacobaco", na qual estava incluída, entre outras, a música de Ary "Na grota funda", com letra do caricaturista J. Carlos. Na estréia estava presente Lamartine Babo que impressionado com a música, resolveu escrever outra letra para a melodia. Nascia, assim, "No rancho fundo", lançado dias depois no programa que Lamartine comandava na Rádio Educadora do Rio de Janeiro. Ainda desse ano são suas composições "Bahia", "Batuque", "Benzinho", "Cavanhaque", "Deixa disso", "É bamba", "E do balacobaco", "É de outro mundo", , "Não faz assim meu coração", "Por causa do boneco", "Rosalina", "Seu Manduca esfarrapado", "Sou da pontinha", "Tenho saudade", "Terra de laiá" e "Vai tratar da tua vida" e ainda "Gira", em parceria com Marques Porto; "Mão no remo", com Noel Rosa; "Não quero você" e "O sabiá de sinhá moça", com os Irmãos Quintiliano; "Nega baiana", com Olegário Mariano; "Quem me compreende", com Bernardino Vivas; "Sai, barbado", com Ainejeré; e "Sem querer...", com Marques Porto e Luís Peixoto. Em 1932, convidado por Renato Murce, Ary foi para a Rádio Philips. Começou como pianista e logo se tornou locutor, inclusive esportivo, humorista e animador. Apresentou-se no programa 'Horas de Outro Mundo' e no programa "Casé". Nesse mesmo ano ainda compôs "Aula de música", "De longe", "É mentira, oi", "Isso é xodó", "Malandragem", "Na Piedade", "Nosso amô veio dum sonho", "Pobre e esfarrapada", "Primeiro amor", "Um samba em Piedade" e "Sonhei que era feliz".

Em parceria com Luís Peixoto, compôs "Maria"; com Haroldo Daltro, compôs "Menina que tem uma pose"; com Lamartine Babo, "Minha palmeira triste"; com Claudeniro de Oliveira ,"Não posso acreditar"; com SíIvio Caldas, "Pente fino"; com Norival de Freitas, "Recordações"; e com Luciano Perrone compôs "Vou deixá o batedô". De 1933 são suas composições "Amor fatal", "Cabrocha inteligente", "Eu vou pra Maranhão", "Falta de consciência", "Flor de inverno", "Quando a morte vem chegando" e "Segura esta mulher" e, ainda, "Nego também é gente", feita em parceria com De Chocalat, e "Zombando da vida", composta em parceria com Márcio Lemes Azevedo. Em 1934, depois de ter ido à Bahia como pianista da orquestra de Napoleão Tavares, Ary criou, na Rádio Cosmos de São Paulo, o programa Hora H.

Nesse mesmo ano compôs "Anistia", "Bateram na minha porta", "Caco velho" "Cavalhada franciscana", "Correio já chegou", "Duro com duro", "É assim que se vai no arrastão", "Malandro sofredor", "Moçoró, minha nega", "Perdão", "Por especial favor", "Sentinela alerta" e "Tu". Também com Osvaldo Santiago, compôs "Balão que muito sobe"; com José Carlos Burle, "Caboca"; com Oduvaldo Viana, "Canção da Felicidade"; com Noel Rosa, "Estrela da manhã"; com Francisco Alves, "Meu Natal"; e com Luís Peixoto, "Neném" e "Na batucada da vida", regravada por Elis Regina em 1974, contribuindo para tornar ainda mais amarga a mensagem da composição. Em 1935 Ary Barroso levou o programa Hora H para a Rádio Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, e também estreou como locutor esportivo, auxiliando Gagliano Neto na transmissão de corridas de automóvel, no circuito da Gávea. Como locutor de futebol, Ary ficou famoso por tocar uma gaita de boca toda vez que era marcado um gol e também por sua parcialidade em favor do Flamengo. As múltiplas atividades desenvolvidas não sufocaram o compositor Ary Barroso. Pelo contrário, ele ia se tornando um dos mais férteis autores da MPB, revelando novos sucessos a cada ano. Com Nássara, ele compôs "Dona Helena" e "Garota colossal"; com Lamartine Babo, "E o samba continua", "Grau dez" e "Na virada da montanha"; com Luís Peixoto, "Por causa dessa caboca"; e com Kid Pepe, compôs "Mulatinho bamba". Ainda em 1935, Ary Barroso compôs "ABC do amor", "Anoiteceu", "É pra frente que se anda", "Eu sonhei", "Foi ela", "Menina tostadinha", "Nosso ranchinho", "Os quindins de Iaiá", "Sobe meu balão" e "Inquietação", lançado por Sílvio Caldas naquele ano e regravado por Gal Costa em 1980.

A extraordinária linha melódica de "Inquietação" é considerada uma das elaborações mais perfeitas de Ary Barroso. Em 1936 Ary Barroso compôs as marchas "A casa dela", "Esta noite sonhei com você", "Paulistinha querida" e "Viu..." os sambas "Minha maior ilusão", "Sem ela", "Sonho de amor" e "Volta meu amor"; a batucada "Deve ser o meu amor" e, ainda, a marcha "Cachopa", em parceria com Luís Peixoto; a marcha "Chiribiribi quá-quá", com Nássara; a marcha "Chopp em garrafa", com Bastos Tigre; e o "Hino do Colégio de Cataguases", com Tostes Malta. Em 1937 Ary Barroso lançou o programa 'Calouros em Desfile', na Rádio Cruzeiro do Sul, que depois foi levado para a TV Tupi. Nesse programa Ary exigia que os candidatos cantassem somente música brasileira e que anunciassem corretamente o nome dos compositores.

Na TV Tupi, Ary instituiu o gongo, tocado para desclassificar os candidatos muito ruins. Mas o gongo silenciou diante de nomes como Ângela Maria e Lúcio Alves, dois dos muitos grandes intérpretes que ali se lançaram. São também de 1937 suas composições "Confissão de amor", feita em parceria com Joraci Camargo; "Janjão e Zabé", em parceria com Paulo Roberto e, ainda, as composições "Amar", "Carioquinha brejeira", "Colibri", "Como vaes você", "Foi de madrugada", "Quem é o homem", "Uma futura lágrima", "Não se deve lamentar", "Novo amor", "Olha a lua" e "No tabuleiro da baiana", que foi composta para um espetáculo do Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, e Ary acabou vendendo os direitos da composição para Jardel Jércolis, que a explorou em espetáculos teatrais.

Mais tarde, quando esse 'samba-batuque' passou a ser sucesso no Cassino Atlântico, na interpretação de Grande Otelo e Déo Maia, Ary Barroso requereu e obteve judicialmente a propriedade da música. Em 1938 Ary Barroso foi para a Rádio Tupi, onde atuou o comentarista, humorista, ator e locutor. Nesse ano aindacompôs, em parceria com Luís Iglesias, "Boneca de pixe"; com Alcyr Pires Vermelho, "A casta Suzana" e "O meu dia há de chegar"; com Gomes.Filho, "A cigana lhe enganou"; e com Luís Peixoto, "Quando penso na Bahia". São também de 1938 suas composições "Circo de cavalinhos", "Como as ondas do mar", "De déu em déu", "Ela sabe e não diz", "Escreva um bilhetinho", "Eu dei..." "Meu amor não me deixou", "Pois sim!,., pois não!", "Salada mista", "A única lembrança", "Vão pro Scala de Milão", "Você está aí pra isso?" e "Na baixa do sapateiro", que foi gravado por Carmen Miranda, mas só obteve sucesso no Brasil depois de ter chamado a atenção do mundo na trilha sonora do desenho 'Você já foi à Bahia?', de Walt Disney. Este samba-jongo deveria chamar-se 'Bahia', nome que Ary conservou nas edições estrangeiras, mas acabou por denominá-lo "Na baixa do sapateiro", para não confundir essa música com sua outra "Bahia", composta em 1931.

Em 1939 Ary Barroso lançou, no espetáculo 'Joujox et balagandans', de Henrique Pongetti, o samba "Aquarela do Brasil", iniciador do samba-exaltação, de melodia extensa e sempre apoiado em grande aparato orquestral - gênero que se acreditava destinado à conquista do mercado internacional da música popular; "Aquarela do Brasil" só teve sucesso depois da gravação feita por Francisco Alves. Ainda nesse ano, compôs, em parceria com Noel Rosa, "De qualquer maneira" e, em parceria com Alcyr Pires Vermelho, "E a testa, Maria?", "Vingança" e "A vizinha das vantagens". São ainda de 1939 suas composições "Batalhão de amor", "Quando a noite é serena", "Viver assim não é vida" e "Camisa amarela", grande sucesso na gravação original, na voz de Aracy de Almeida, sendo regravado, depois, pela própria Aracy e por vários outros intérpretes. Em 1940 Ary Barroso compôs os sambas "Deixa esta mulher sofrer", "Eu gosto do samba" e "Nunca mais"; as marchas "laiá boneca" e "Upa... upa... (Meu trolinho)" e a valsa "Mentira de amor" e, também, a marcha "Pega no pau da bandeira", em parceria com J.Castro; o samba "Se Deus quiser" e a marcha "Veneno", com Alcyr Pires Vermelho; e o samba "Vespa", em parceria com Malfitano.

Em 1943 compõe Pra machucar meu coração" e "Terra seca" e as marchas "Cem por cento brasileiro" e "Quem cabras não tem...". No início de 1944 Ary Barroso foi, pela primeira vez, aos Estados Unidos e compôs, para o filme 'Brasil', a música "Rio de Janeiro", que chegou a ser indicada para o Oscar. Também de 1944 são suas composições "Diz que dão", "Na parede da igrejinha" e "Olhos divinos". Nesse mesmo ano surgiu a Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores da Música - SBACEM, da qual Ary foi, praticamente, o primeiro presidente. Pelo trabalho que realizou em defesa do direito autoral, Ary foi aclamado Presidente de Honra e Conselheiro Perpétuo dessa entidade. No final de 1944 Ary Barroso voltou aos Estados Unidos, onde permaneceu por oito meses, ganhando mil dólares por semana.

Dessa vez compôs a canção-tema do filme 'Três Garotas de Azul'. Em 1945 Ary compôs, em parceria com Juan Daniel, a valsa "Cuatro palabritas". Ary voltaria ainda mais urna vez à América do Norte, em 1945, para musicar "O Trono das Amazonas", que teria 18 composições suas e que não chegou a ser encenado, porque o produtor faliu pouco antes da estréia. Em 1946 Ary Barroso se candidatou a vereador no Rio de Janeiro, pela União Democrática Nacional e teve a segunda maior votação da Câmara de Vereadores do então Distrito Federal. Ary só perdeu para Carlos Lacerda. O talento de polemista de Ary e a mesma paixão com que irradiava partidas de futebol foram levados para a política. Sua grande batalha foi a do local onde seria construído o Maracanã. Carlos Lacerda queria que o enorme estádio fosse erguido na restinga de Jacarepaguá, mas Ary conseguiu que o local aprovado fosse o terreno do Derby Club. Para isso, Ary realizou diversas manobras: para conseguir o apoio da bancada majoritária, a do Partido Comunista Brasileiro, com 18 vereadores, Ary pediu, junto com João Lyra Filho, uma pesquisa ao IBOPE, cujo resultado apontou que 88% da população queria o estádio no terreno do Derby, onde, aliás, acabou sendo construído.

Também de 1946 são seus sambas "Assobia um samba" "Bahia imortal" e "Eu nasci no morro". Em 1947 Ary Barroso compôs o samba "Deixa o mundo falar" e a marcha "É pão, ou não é?" De 1948 são suas composições "Grave revelação", "Mal-me-quer, bem-me-quer", "Podes ir, meu amor", "Rio" e "Falta um zero no meu ordenado", esta em parceria com Benedito Lacerda. Em 1950 aparecem os sambas "Aquarela mineira", "O Brasil há de ganhar", "Chama-se João", "Forasteiro" e "Vai de vez", as marchas "Flor tropical" e "No jardim dos meus sonhos" e ainda o samba "Carne seca com tutu", em parceria com Vilma Quantiere de Azevedo. De 1951 são os sambas "Ai, Geni", "laiá da Bahia" e "Na beira do cais"; os choros "Chorando" e "Sambando na gafieira"; a marcha "O mar também conhece"; o samba-canção "Plena manhã" e, também, o samba-canção "Mentira", feito em parceria com Augusto Jaime de Vasconcelos, e o samba "Primavera", feito em parceria com Lúcia Alves Calão. Ary Barroso sempre esteve em campo para promover a música brasileira. Em seus programas prestigiava os calouros que apresentavam canções do repertório nacional. Tinha horror aos acordes americanos em samba. Nas várias vezes em que esteve no exterior, preocupou-se em levar o samba autêntico.

Quando, em 1952, compôs o samba-canção "Risque", teve de brigar para que não fosse gravado como bolero. A primeira gravação de "Risque" Foi de Aurora Miranda, irmã de Carmen Miranda; mas foi na voz de Linda Batista que o samba-canção teve sucesso. Com Iraci N. Silva, Ary compôs, em 1952, o samba "Cruel resistência". Também de 1952 são suas composições "Fechei a página", "Flores mortas", "Laço branco", "Nada mais me consola", "O nosso amor morreu" e "Folha morta", gravado por Dalva de Oliveira para a Odeon, em Londres, e lançado no Brasil com sucesso imediato. Quatro anos mais tarde, "Folha morta" foi gravada por Jamelão, na Continental, reeditando o sucesso da música e confirmando, mais uma vez, o bem-sucedido de Ary Barroso no gênero samba-mórbido. A princípio Ary Barroso não gostava da bossa nova, mas isso não o impediu de colocar "A Felicidade", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, entre as dez melhores músicas populares de todos os tempos.

Assim era Ary: impulsivo, orgulhoso, sempre pronto a criticar abertamente o que julgasse errado. Logo, seu encontro com o compositor Villa-Lobos só podia dar no que deu: briga. Num concurso de música, Villa-Lobos negou a Ary o primeiro lugar, que muitos achavam ser ele merecedor. Isso bastou para que rompessem relações. No dia 7 de setembro de 1955, Ary e Villa-Lobos se encontraram no Palácio do Catete, para receber a Ordem do Mérito, que lhes havia sido concedida pelo Presidente da República, Café Filho. Foi então que Davi Nasser, vencedor do concurso gerador do ressentimento, contou a Ary que havia ganhado o prêmio porque Villa-Lobos sabia das dificuldades que Davi atravessava na época e tinha resolvido ajudá-lo. Us dois gênios geniosos se abraçaram e acabou-se o desentendimento. Em 1957 Ary foi homenageado com o espetáculo 'Mr. Samba', do produtor Carlos Machado. Montado na boate Night and Day, do Rio de Janeiro, o roteiro do show sugeria sua biografia, utilizando suas próprias composições. 

Desse ano são suas composições "Colombinas fracassadas", "Grand monde do crioléu", "Mês de Maria", "Não quero mais", "Não quero saber", "Nega nhanhá", "Só", "Vem cá, Mané" e, ainda, "Vou procurar outro bem", em parceria com Nestor de Holanda e "É luxo só", em parceria com Luís Peixoto. Em 1958 Ary Barroso compôs os sambas "Essa diaba", "Eu fui de novo à Penha" e "Você fracassou" e a valsa "Sombra e luz". De 1959 é o samba-canção "Cantiga de enganar tristeza', composto em parceria com Tiago de Melo. Em 1960 Ary Barroso foi vice-presidente do departamento cultural e recreativo do Clube de Regatas Flamengo. São também de 1960 suas composições "Dois amigos", "Jogada pelo mundo" e "Pierrô" e, ainda, "Esquece" e "Samba no céu", feitas em parceria com Meira Guimarães e "Bebeco e Doca", em parceria com Luís Peixoto. Em 1961 Ary adoeceu de cirrose hepática e foi viver em um sítio em Araras, Rio de Janeiro. Mesmo assim, nesse ano, ainda compôs "Canção em tom maior", "Semente do amor", "Tufão" e "Quero voltar à Bahia", esta em parceria com Meira Guimarães.

Em 1962, parcialmente restabelecido, Ary retomou seu programa na TV Tupi, 'Encontro com Ary', transmitido aos domingos. Desse ano é sua composição "Balada da saudade" e as composições, em parceria com Vinícius de Moraes, "Em noite de luar", "Mulata no sapateado", "Rancho das namoradas" e "Já era tempo". Internado na Casa de Saúde São José, com nova crise de cirrose, Ary Barroso parecia recuperar-se no Natal de 1963. Mas sofreu uma nova crise e foi internado no Instituto Cirúrgico Gabriel de Lucena. Ary Barroso morreu pouco antes das 10 horas da noite de 9 de fevereiro de 1964. Mesmo depois de sua morte, Ary Barroso, o compositor brasileiro mais conhecido em seu país e fora dele, continua sendo gravado por grandes e famosos intérpretes, que reconhecem seu extraordinário talento.fonte: Memórias da MPB - Samira Prioli Jayme.




Trechos do livro de Sérgio Cabral intitulado "No tempo de Ari Barroso": Nos seus últimos dias Ary telefona do hospital para o amigo David Nasser:-Estou me despedindo. Vou morrer.-Como é que você sabe, Ary?-Estão tocando as minhas músicas no rádio. No show Eu sou o espetáculo o comediante José Vasconcelos imitava Ary, no momento em que este estaria recebendo um candidato em seu programa Calouros em desfile:
ARI - O que você vai cantar?
CALOURO - Vou cantar um sambinha.
ARI - É sempre assim. Se fosse mambo, não seria um mambinho. Se fosse bolero, não seria bolerinho. Mas samba é um sambinha. 
E que sambinha o senhor vai cantar?
CALOURO - Aquarela do Brasil.

**Clic no marcador e veja reunidas todas as postagens relacionadas***